quarta-feira, 9 de novembro de 2011

As teorias do Caos e Complexidade: o exemplo dos efeitos do terremoto no Japão

Muitas vezes encontramos notícias que aparentemente não querem dizer nada de especial. No entanto, mentes mais atentas conseguem discernir algo a mais. 

A verdadeira mentalidade científica é como a de um perito garimpeiro, que com esforço diligente consegue enxergar o ouro em meio à lama. É verdade que grande parte do que é mostrado na mídia é “descartável”, pois não acrescenta nada novo.


      Veja, por exemplo, essa notícia: “Terremoto no Japão pode ter deslocado eixo da Terra em torno de 10 cm.”

Abaixo alguns comentários de internautas [que na maioria são pessoas cultas e esclarecidas]:

“Não afetará a vida de ninguém, esse tipo de coisa ocorre desde sempre, há bilhões de anos. Não leram que houve um descolamento ainda maior em 1960?”
“Provavelmente, após 2012, as potências mundiais estarão do lado de baixo do atlas...”

“Ok, mas o que ficamos mais curiosos para saber é: A Terra ficou mais inclinada ou menos inclinada?”

“Não muda nada. Um deslocamento de 10 cm é nada em comparação com o diâmetro da Terra. Terremotos são acontecimentos inevitáveis, que o ser humano não tem o poder de provocar nem de evitar.”

Esses são apenas uma pequena fração de tantos outros comentários dessa mesma natureza. Claro que sou a favor de liberdade de expressão. Todos têm o direito de opinar. Mas pra que opinar de modo tão descuidado, quando não há um embasamento que sustente tais opiniões? 

A ciência tem demonstrado que eventos aparentemente desprezíveis são, na verdade, responsáveis por uma gama de fenômenos inesperados, pois os acúmulos desses efeitos passam a ser consideráveis a partir de certo limite. Essa afirmação está fundamentada num ramo relativamente novo da ciência, chamado de Teoria do Caos ou Complexidade. São termos genéricos pelos quais ficou conhecido o novo modelo de funcionamento dos fenômenos.



O principal precursor da Teoria do Caos foi o trabalho do meteorologista Edward Lorenz, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). No início da década de 1960, Lorenz estava desenvolvendo um modelo que simulava no computador a evolução das condições do tempo. Dados os valores iniciais de temperatura e velocidade do vento, o computador fazia uma simulação da previsão do tempo. 

Edward Lorenz

Lorenz imaginava que pequenas modificações nas condições iniciais não acarretariam em alterações significativas na evolução do quadro como um todo. Para sua surpresa, descobriu que mudanças infinitesimais nos dados de entrada poderiam ocasionar alterações drásticas nas condições futuras do tempo. 

Daí a idéia de que “o bater de asas de uma borboleta na Califórnia podiam causar um furacão na Flórida um mês depois”. As teorias do Caos e da Complexidade abrangem campos bem diversos da ciência e consegue explicar conceitos e fenômenos complicados, como a formação de fractais e o funcionamento dos chamados atratores estranhos.  

Dessa forma, convém considerar pequenos efeitos, pois eles podem revelar fenômenos não previstos pelas teorias “clássicas.” Os atuais modelos da dinâmica geofísica são verossímeis, mas ainda não atingiu um nível mais excelente por conta da nossa incapacidade de incorporar fatores de natureza caótica / complexa na evolução da dinâmica geofísica. Eis mais um grande desafio para o século XXI! 


Se a nossa mentalidade não evoluir nesse aspecto, reduzida será nossa capacidade de previsão e de tomada de decisões, o que pode envolver milhões de vidas, dependendo do caso. Faço uma crítica construtiva às pessoas que simplesmente dizem “EU ACHO QUE...”, para que evoluam e digam “EU PENSO QUE...”. Pesquisem, se tem dúvidas, analisem e construam uma mentalidade científica.
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“O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende.”  Blaise Pascal.

“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.” Leonardo da Vinci.     

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