segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Reflexões 2011


Os antigos romanos cultuavam uma divindade bifronte chamada Jano [ou Janus]. Ele era considerado como o guardião dos portões celestiais e o fato de ter duas cabeças olhando em direções opostas se devem à sua função, responsável por cuidar do passado e do futuro, do início e do fim. Eram colocados seus rostos nas portas das casas, um rosto para dentro e outro para fora. Janus era bem popular, pois era uma divindade protetora dos lares. Ele abria as portas para o ano que se iniciava e com isso fechava as portas para o ano velho.  

Por isso, não é à toa que Janeiro é o mês de homenagem a Janus, pois olhamos para o ano que passou e projetamos o ano novo que se inicia. Essa idéia de renovação é inerente ao ser humano. Queremos esquecer os maus momentos, corrigir os erros, apagar as más lembranças. Jogamos tudo de mal na lixeira do “ontem”. Por outro lado, olhamos para o ano que se inicia com otimismo. Queremos acertar, atingir metas, resolver o que ficou pendente.



Particularmente, acho muito boa essa imagem que os antigos faziam sobre o tempo e sobre a vida. Embora seja uma abordagem baseada na mitologia, ela concentra nossas idéias de renovação, mudança, transição, início e fim. Nesse caso, seria entediante se o tempo fosse encarado de modo linear. Não devemos ser cientificamente corretos o tempo inteiro. 



Numa das obras poéticas mais importantes da cultura do Ocidente europeu, as Metamorfoses, o poeta romano Ovídio exprimiu todos esses sentimentos que experimentamos diante da mudança, da renovação e da repetição, do nascimento e da morte das coisas e dos seres humanos. Na parte final de sua obra, lemos:

“Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio... O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite... Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida? Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos.”

2012 nem chegou e as projeções sobre ele são muito pessimistas. Falam em fim do mundo e crise econômica.  Mas não devemos permitir nenhum desânimo ou temor. Andemos em frente, vamos "abrir a porta" e ver o que o futuro nos reserva. Escrevo aos amigos e leitores com a certeza que 2012 não é o fim, mas um novo começo. 



Então, celebremos a esse raro espetáculo, que é a vida. Caminhemos em direção aos nossos sonhos, pois eles nos impulsionam a seguir em frente e completar a jornada da vida.


Um feliz 2012 a todos!

Trecho Metamorfoses em:
Convite à Filosofia, ed. Ática, São Paulo, 2000. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A caixa de comentários é o seu espaço para sugerir, elogiar e fazer críticas (construtivas). Portanto:


- Seja cordial, não use palavrões ou termos pejorativos.
- Não use caixa alta (Caps Lock).
- Não coloque spam e não faça comentários fora do contexto do post.
- Não serão publicados comentários ofensivos e discriminatórios contra pessoas e/ou instituições.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...