segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

“E eles viveram felizes para sempre...”

 

Assim termina todo conto de fadas! 

Lá vem eu estragar o negócio com o meu cientificismo... Nada contra Will e Kate, até acho um casal bonitinho!

Vamos falar a sério...

Um dos maiores sonhos da humanidade é vencer a morte. Não importa a época ou o lugar, essa busca pela imortalidade tem sido quase que uma obsessão. Grandes pensadores de diferentes épocas trataram do tema quer seja na poesia, na arte, na filosofia, na ciência, na religião. Todas as culturas (sem exceção, talvez) também fizeram o mesmo. Mas esse é um sonho possível ou utópico?

Na Idade Média, mais acentuadamente, os chamados alquimistas empenharam-se em criar o “elixir da vida eterna”, ou da vida longa, pelo menos. A idéia consiste em estudar a natureza, aprendendo os mistérios da vida e da morte. Estudavam-se profundamente os três reinos: o vegetal, o animal e o mineral. Esperava-se que a observação e o estudo do mundo natural desvendassem a chave desse mistério.



 
Desenhos de Leonardo sobre a posição do feto. 


       Leonardo da Vinci (1452 ─ 1519) era um entusiasta dessa idéia. Dissecava cadáveres de pessoas, pássaros e outros pequenos animais a fim de estudar a anatomia. Estudou também a botânica e alguns minerais. [Não estou afirmando nem negando se ele era um alquimista]. Da Vinci tinha um interesse fervoroso pelas máquinas de movimento perpétuo, elaborando diversos protótipos destas. Os pássaros ocupavam sua atenção em especial, pois ele era fascinado pelo vôo. De fato, ele estudava quase tudo, com diversos propósitos. 



 
Perceba a exatidão captada em seu desenho de alguns órgãos vitais.


Destaquei Leonardo da Vinci dada à sua grande fama e também porque ele sintetiza o pensamento humano do Renascimento. Sua busca durou toda uma vida e ele não conseguiu criar a máquina do moto perpétuo e não descobriu o segredo da vida eterna. Embora fosse um homem genial e de incrível capacidade engenhosa.

Muito se especula sobre a possibilidade de alguns homens terem conseguido tal segredo. Ilustres alquimistas como Nicolas Flamel (1330 ─ 1417), Phillipus Aureolus “Paracelso” (1493 ─ 1541), Vannoccio Biringuccio (1480 ─ 1540) são alguns dos nomes mais conhecidos da Alquimia que muitos dizem ter descoberto o mistério da vida. No entanto, nada foi provado, inclusive pelo fato óbvio de eles terem morrido. Até mesmo Sir Isaac Newton (1642 ─ 1727) dedicou muitos anos de sua vida em busca desse conhecimento.

 
Ilustração de um dispositivo de movimento contínuo. O movimento seria mantido eternamente apenas pelo impulso das esferas. Como todos os outros, há um momento que ele cessa.




Rumo à entropia


A idéia de gerar trabalho a partir do nada ainda povoava a mente de muitos cientistas, mesmo depois da Renascença. Mas com o advento das máquinas térmicas essa mentalidade mudou radicalmente. Vários estudos comprovaram, sem sombra de dúvidas que não há nenhum dispositivo no mundo físico capaz de gerar trabalho a partir do nada. O engenheiro francês Nicolas Léonard Carnot (1796 ─ 1832), idealizou uma máquina cujo rendimento seria o máximo possível. A obra de Carnot focalizava esse aspecto de máximo aproveitamento, mas ele também discutiu alguns fatos sobre a natureza do calor, que inclusive passou despercebido.


Carnot teve uma morte prematura, aos 36 anos e não chegou a desenvolver plenamente essa teoria. Suas conclusões tiveram um alcance que nem ele mesmo poderia supor. Caberia ao físico e matemático Rudolf Clausius (1822 ─ 1888) desenvolver tais conceitos e explicá-los a partir da chamada Segunda Lei da Termodinâmica, descobrindo com isso que há um princípio geral que permeia todos os sistemas físicos, a lei da entropia. Com o amadurecimento do conceito de energia, os cientistas sabem hoje que todos os sistemas caminham para a desordem e não o contrário. A natureza possui um caráter irreversível, uma via de mão única.[1]
            
 
A queda d’água, de M. C. Escher. O esquema da trajetória da água viola claramente o Princípio da Conservação de Energia.

(Visite a página oficial desse artista em http://www.mcescher.com/)


Mas você pode se perguntar: estamos falando de pessoas ou máquinas térmicas? O que se aplica aos sistemas mecânicos pode se generalizar para os sistemas biológicos, no caso, os seres vivos? Ou seja, estamos a falar sobre vida e morte?


Sim, estamos falando de um princípio geral. Não importa se o sistema é biológico, físico ou químico, a entropia é inerente a qualquer processo da natureza. A morte é um processo de degradação que se estende até a matéria inanimada. Do prego que enferruja, ao ser humano que morre ela está presente. Não há como realimentar continuamente qualquer mecanismo natural, pois a “energia não pode ser criada, nem destruída”. Ela sofre mutações nesses processos e em cada modalidade há perda ou transformação de um “tipo” de energia em outro. Ela é dissipada cada vez que se transforma e não há como recuperar essa perda. Daí não haver possibilidade de criar uma máquina de movimento perpétuo.





Um fato que me intriga aqui é que sendo a entropia um princípio geral da natureza, irreversível, como falar em evolução? Veja, não estou falando contra a Teoria da Evolução, mas salientando que a entropia está presente em tudo, fazendo com que tudo caminhe do estado mais organizado ao mais degradado e isso se aplica também à Biologia. Evoluir, então seria uma contramão disso.


Não quero criar nenhum debate aqui. Não estou disposto a discutir com quem quer que seja. Se alguém tem outros questionamentos que possam enriquecer a questão, então contribua com conhecimento sobre o assunto e com seriedade. É apenas um ponto de vista pessoal, uma conjectura que me intriga. A natureza tem sempre esses cinco aspectos: 1-gênese ou produção, 2-desenvolvimento, 3-amadurecimento, 4-reprodução e 5-morte ou dissipação. Gosto da palavra desenvolvimento, pois ela se aplica melhor à idéia de processo. Tudo na natureza passa por isso, desde uma simples ameba ate a um aglomerado de galáxias.    

 

Um pouco de Biologia


De forma geral, o ser humano morre devido ao envelhecimento das células ou à falência dos órgãos. Deste modo, cessar o envelhecimento e substituir os órgãos antes que ambos possam afetar a nossa saúde é o que, em teoria, nos tornaria seres imortais.


Atualmente, pelo menos duas pesquisas autônomas estão em curso para descobrir o segredo da imortalidade (ou da longevidade, pelo menos). Uma é do pesquisador da Universidade de Cambridge, Aubrey de Grey. Ele acredita que pode reproduzir um experimento dentro de células humanas, que isola uma enzima de uma bactéria, mantendo-as sufocadas e impedindo que elas morram.

 

A outra pesquisa é do geneticista molecular Bill Andrews, que descobriu um suplemento que mantém os telômeros maiores. Com isso, o pesquisador acredita que possa controlar a deterioração das células, revertendo o processo de envelhecimento. Os telômeros é como uma espécie de faixas de DNA no final dos cromossomos. Em certo sentido, são eles que mantêm as células, protegendo a integridade dos cromossomos. Isto permite a geração de uma réplica completa das extremidades cromossômicas devido à atividade de uma enzima, a telomerase, que é capaz de sintetizar telômeros de novo.


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Minha opinião é que no máximo se pode conseguir uma prolongação da vida, mas deter a morte não é possível. No entanto, se for para melhorar nossa qualidade de vida esse esforço é válido.   
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[1] As leis da Termodinâmica abordam alguns processos ditos reversíveis (entropia constante). No entanto, estes são idealizados. Isto é comum nas ciências exatas, para que os modelos fiquem matematicamente tratáveis. A irreversibilidade é mais realista, pois inclui a complexidade, típica dos processos naturais de não-equilíbrio. A entropia cresce ou permanece constante, mas nunca diminui.  

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